A pequena Ribas do Rio Pardo entra no "Vale da Celulose"

Nova fábrica vai empregar 3 mil pessoas, entre trabalhadores diretos e indiretos, na área industrial e na florestal

Por Stella Fontes em 26/12/2023 às 17:05:18

Um projeto de R$ 22,2 bilhões tem mudado a vida da pequena Ribas do Rio Pardo, um grotão no Mato Grosso do Sul (a 100 km de Campo Grande). Absorvendo os ganhos e as dores do crescimento acelerado, a cidade passou a ser "vendida" a potenciais investidores como "Vale da Celulose".

A Suzano, gigante do setor, escolheu o município para implantar o Projeto Cerrado, que inclui uma nova fábrica, a maior de celulose em linha única de eucalipto do mundo, atraindo comerciantes de outros Estados e levando à instalação de semáforos.

A população dobrou. São 12 mil habitantes, além de 11 mil pessoas que trabalham nos canteiros de obras e vivem na cidade. Até 2025, a expectativa é chegar a 30 mil. A fábrica começa a operar em 2024 e empregará 3 mil pessoas, entre trabalhadores diretos e indiretos. Moradores reclamam que os aluguéis subiram de preço.

A população também dobrou de tamanho. Ribas tem hoje 12 mil habitantes, mais uma população de 11 mil pessoas que trabalham nas obras de Cerrado e vive na cidade. Até 2025, a expectativa é que o número chegue a 30 mil.

O início da operação está previsto para o segundo trimestre de 2024 e a nova fábrica vai empregar 3 mil pessoas, entre trabalhadores diretos e indiretos, na área industrial e na florestal. "Serão 3 mil profissionais na Suzano, mas há um múltiplo de quatro a cinco quando se olha a economia circular. Esses trabalhadores injetam recursos na cidade", explicou o diretor de engenharia da companhia, Maurício Miranda.

Proprietária de uma loja de materiais de construção, a RP, a comerciante Katia Daparé da Cruz, 33 anos, se mudou com o marido do interior de São Paulo para Ribas há oito anos, levada pelas oportunidades que o avanço do eucalipto na região poderia gerar. Seu pai a convenceu de que essa cultura iria enriquecer cidades relativamente próximas à capital.

"Antes [de Cerrado], vendíamos muito para o pessoal das fazendas de gado. Hoje, é mais gente da cidade." Com o negócio crescendo, o casal decidiu ampliar a loja. Após um salto inicial, viu as vendas se estabilizarem em patamar 40% superior ao registrado antes do lançamento do projeto de celulose. Não há, porém, mão de obra suficiente na região. "A concorrência por trabalhadores cresceu, assim como os salários tiveram de ser corrigidos para cima". O aluguel na cidade, segundo os moradores, também subiu com a maior ocupação.

A contadora Nalu Tais da Costa Secches, 46 anos, dona da Maktub Festas e Eventos, também se queixa da dificuldade crescente de encontrar mão de obra para executar desde os trabalhos mais simples até os mais sofisticados. Ela e o marido deixaram São José do Rio Preto (SP) há pouco mais de duas décadas e se instalaram em Ribas, onde seus pais moravam inicialmente com uma autopeças. Em 2014, conta, a cidade estava em crise e começaram a surgir os primeiros rumores de que uma grande fábrica de celulose chegaria à região.

Em 2018, o casal já estava trabalhando com o espaço de festas próprio e fornecendo kits de café ou refeição para eventos externos, mas só viu o volume de trabalho disparar, de fato, quando a Suzano chegou à cidade. "A Suzano trouxe poder aquisitivo. O que não acompanhou foi a oferta de mão de obra", disse Nalu. Hoje, a Maktub tem sete funcionários contratados, mas poderia empregar 20, pelos seus cálculos.

O marido, também empreendedor, se afastou do negócio de eventos para abrir um comércio de produtos de limpeza há dois anos e "aproveitar o movimento". Até as excursões para o bairro do Brás, em São Paulo, tradicional reduto de confecções e lojas de toda classe de artigos para revenda, prosperaram com o lançamento de Cerrado. Se antes havia uma viagem por semana passando por Ribas, hoje são quatro, segundo Nalu.

Além do investimento, Cerrado tem outros números superlativos. Maior linha única do mundo, terá capacidade produtiva de 2,55 milhões de toneladas por ano de celulose de eucalipto. Somente as instalações industriais, já preparadas para receber a segunda linha no futuro, estão em uma área com 4,5 quilômetros de comprimento e 1,5 quilômetro de largura com três geradores, será autossuficiente em energia e terá um excedente de 180 megawatts (MW) médios, que será exportado para o grid nacional e pode abastecer uma cidade com 2 milhões de habitantes. Não haverá consumo de combustível fóssil na operação, a mais moderna e sofisticada do setor.

"Uma fábrica como essa traz muito desenvolvimento, mas a fase de construção também traz muitos desafios", afirmou o diretor de operação de celulose da Suzano, Aires Galhardo. Esses desafios vão desde alimentação e alojamento para os milhares de trabalhadores que executarão o projeto às questões de logística - a BR-262, que corta Ribas, tem quase 200 quilômetros de mão simples e recebeu todo o fluxo gerado pelo empreendimento - e ao risco de sobrecarregar os serviços públicos, em especial a saúde.

Para receber o pessoal que trabalha na obra, foi preciso montar o maior refeitório do Estado, capaz de atender 2 mil pessoas ao mesmo tempo e servir 238 mil refeições por mês. São consumidos 38 toneladas de arroz, 38 toneladas de feijão, mais de 100 mil ovos e 65 toneladas mensalmente. Para os trabalhadores fixos, a companhia está investindo R$ 200 milhões em um conjunto residencial com 954 casas, de dois e três dormitórios, que mediante certas regras podem virar imóvel próprio no futuro.

Em outra frente, para mitigar os impactos de um empreendimento dessa magnitude numa região que carece de todo tipo de estrutura, a Suzano teve de olhar além da cerca, observou Maurício Miranda. Ao analisar os indicadores sócio-econômicos de Ribas do Rio Pardo, descobriu que os índices de vulnerabilidade eram piores do que a média nacional e do Estado. Em 2021, quando a companhia chegou à cidade, 74% das crianças de até 5 anos não frequentavam a escola, 44% da população era economicamente ativa mas só 15,9% tinha ocupação fixa e 29% da população estava em situação de pobreza ou extrema pobreza. Em termos de educação, 40% dos lares não tinha nenhum morador com o fundamental completo.

A partir desse diagnóstico, a companhia definiu uma série de iniciativas que, ao mesmo tempo em que viabilizam seu investimento, terão impacto positivo para a comunidade de forma perene. A Suzano optou por não ceder recursos diretamente aos órgãos públicos, mas aplicá-los em projetos conforme a necessidade apontada por eles. Inicialmente, o Programa Básico Ambiental (PBA) desenhado com as autoridades previa aportes de R$ 48 milhões. Hoje, já se aproxima de R$ 60 milhões.

Entre as contribuições estão uma casa de passagem, ampliação do hospital municipal com instalação das primeiras unidades de UTI em Ribas - 10 espaços, dos quais 3 totalmente equipados, mas que ainda não funcionam por um desentendimento entre Estado e Prefeitura sobre custos -, além de um posto avançado em saúde (Sepaco), investimentos em iniciativas sociais e de educação, câmeras de monitoramento de segurança, uma delegacia nova - com o crescimento da população, a insegurança se tornou uma questão para Ribas.

A repórter viajou a convite da Suzano*

Foto: Rio Pardo News

Fonte: O Valor - De Ribas do Rio Pardo (MS) e São Paulo

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