"Forasteiro", primeiro governador de MS enfrentou oposição e demissão em 5 meses

Engenheiro civil, o gaúcho Harry Amorim Costa desagradou lideranças locais ao formar secretariado técnico

Por Silvia Frias em 11/10/2022 às 11:19:23

Gaúcho de Cruz Alta (RS), o forasteiro Harry Amorim Costa foi o nome escolhido pelo presidente da República, Ernesto Geisel, para assumir a administração do recém criado Mato Grosso do Sul. Permaneceu apenas cinco meses no cargo, demitido depois de ser vencido pela ferrenha oposição que, entre várias críticas, não apoiou o modelo técnico de administração.

Antes da demissão, Amorim foi "fritado" pela oposição e enfrentou meses de pressão. Em uma entrevista à época, sabia o que lhe esperava: "não pedi para ser nomeado, não vou pedir para sair".


O ex-senador Levy Dias foi amigo e apoiador de Amorim e contou ao Campo Grande News que a indicação do engenheiro civil foi uma surpresa para todos, mas resultado da falta de entendimento dentro do Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido governista da ditadura militar.

Prefeito Marcelo Miranda recebe o novo governador, o ministro do Interior Rangel Reis e o governador de MT, Garcia Neto. (Foto: Roberto Higa)
As publicações da época falam da briga interna no Arena. Naquele período, o partido estava dividido em três vertentes: os ortodoxos, liderados pelo senador José Fragelli, os independentes, capitaneados pelo ex-governador do Mato Grosso uno, Pedro Pedrossian e os renovadores, da ala do deputado federal à época, Levy Dias.

"Geisel tinha data limite para indicar nome no governo", lembrou Levy Dias. A assinatura da criação do Estado, pela Lei Complementar Nº 31, havia ocorrido em de 11 de outubro de 1977 e seria concretizada dois anos depois, com a posse do novo governador, deputados e senador.

Harry Amorim (esq) assina posse: "forasteiro" foi indicado pelo ministro do Interior, Rangel Reis (terno azul). (Foto: Roberto Higa)
Porém as lideranças do Arena não chegaram a um nome de consenso para assumir a função e o presidente acatou uma indicação do Ministro do Interior, Rangel Reis: até então, Amorim era diretor-geral do DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) e não tinha muita intimidade com a região, somente havia comandado obras de saneamento que contemplaram o Estado.

Para compensar o fato, antes de assumir a função, Amorim teria viajado pelos 55 municípios existentes na época para conhecer as realidades de cada local, segundo pesquisa do historiador Ciro Toledo, citada em artigo publicado pelo professor Wagner Cordeiro Chagas, mestre em História pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), e estudioso da história política do Estado.

Amorim assumiu o governo de MS no dia 1º de janeiro de 1979, juntamente com a nova Assembleia Legislativa. Apesar de ainda não contar com apoio dos ortodoxos e dos independentes, o clima inicial era amigável e de reconhecimento do terreno.

O clima pacífico durou apenas 60 dias. Desagradou ao formar secretariado enxuto e técnico, formado por profissionais de outros estados, sem privilegiar indicações políticas locais. Também foi alvo de denúncia de gastos excessivos, como a compra de carros oficiais, os Opalas pretos usados pelo secretariado, apelidados na imprensa de "Besourões da Mordomia".
Harry Amorim foi "fritado" até demissão: "não pedi para ser nomeado, não vou pedir para sair". (Foto/Arquivo/Correio do Estado)
Segundo professor Wagner Cordeiro Chagas, a oposição se articulou e os senadores Pedro Pedrossian, Antônio Mendes Canale e Rachid Saldanha Derzi foram até o presidente João Figueiredo pedir a demissão de Harry Amorim. O apoio de prefeitos, que assinaram a Carta Maracaju, em favor da gestão dele, não foi suficiente: em 12 de junho de 1979, o gaúcho foi demitido do cargo.



Levy Dias conta que estava com Amorim, em Brasília, quando o governador recebeu a notícia, dada pelo Ministro da Justiça, Petrônio Portela. "Teve reação normal, era homem sereno, equilibrado, muito centrado na administração", contou, lembrando, ainda, a frase dita por ele. "O problema não sou eu, é o pessoal daqui [MS]".

Dias diz que a compra dos carros não era necessária, mas que isso não teria sido o motivo principal, nem a outra tese, a de que Amorim foi favorável ao mandato de quatro para governador, que consta no texto constitucional estadual. "O problema era que tinha que ter assumido alguém do Estado".
Velório foi realizado na Assembleia Legislativa, em Campo Grande. (Foto/Arquivo/Correio do Estado)
A demissão não o afastou mais do Mato Grosso do Sul: em novembro de 1979, com reformulação partidária, filiou-se ao PMDB e foi eleito deputado federal pelo Estado, em 1982. Depois de não se reeleger, em 1987 foi nomeado secretário de Meio Ambiente, na gestão do governo Marcelo Miranda. Morreu no dia 19 de agosto daquele ano, em acidente a caminho de Corumbá.

"O Harry era pessoa especial, muito séria, muito correta, era um cavalheiro, fácil de conversar com ele", relembra Dias.

Em artigo publicado por Chagas, o pesquisador elenca algumas obras na gestão do gaúcho: a primeira obra de saneamento da Sanesul, em Rio Negro; o início do asfaltamento rodovia entre Campo Grande e Sidrolândia; a criação da Polícia Militar Rodoviária Estadual e, na Educação,a elaboração do Estatuto do Magistério Público.
Busto em homenagem ao 1º governador de MS, no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Paulo Francis)
Em 2014, umas das homenagens prestadas ao ex-governador foi alterada, a pedido da família: o Presídio de Segurança em Dourados, nominado Harry Amorim Costa, passou a se chamar Penitenciária Estadual de Dourados. Em Campo Grande, um busto foi erguido no Parque das Nações Indígenas, em homenagem prestada pela Colônia Gaúcha.

Fonte: Campo Grande News

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