Ribas do Rio Pardo amanhece de luto e dá adeus à Guiomar Soares dos Santos

O município de Ribas do Rio Pardo amanheceu triste e o prefeito João Alfredo Danieze decretou luto oficial por três dias. A morte da vice-prefeita Guiomar Soares dos Santos, registrada no Hospital Municipal José Maria Marques Domingues, no último domingo (12), às 19h, pegou a todos de surpresa. A cidade parou para prestar homenagens à educadora e vice-prefeita do município, que era pedagoga e pós-graduada em psicopedagogia.

Logo às 6h desta terça-feira (13), iniciou-se a primeira parte do velório de Guiomar Soares dos Santos no plenário da Câmara Municipal de Ribas do Rio Pardo. Querida na cidade, a estrutura no parlamento ficou pequena e, por alguns minutos, uma fila foi formada para que os cidadãos pudessem se despedir da vice-prefeita. O prefeito João Alfredo Danieze, o presidente da Câmara Municipal, vereador Luiz Antônio Fernandes Ribeiro - Luiz do Sindicato – demais vereadores, secretários municipais e até ex-prefeitos estiveram presentes no velório.

Às 10h, o velório em Ribas do Rio Pardo foi encerrado e uma comitiva partiu para Três Lagoas – local em que Guiomar Soares dos Santos nasceu. A vice-prefeita tinha 57 anos e deixa o marido Mauro Antônio dos Santos, que é aposentado, os filhos Jaqueline e Paulo Roberto, o genro Jackson Collis, a nora Valdineide dos Santos, e os netos Miguel, Ana Júlia e Gabriel. Em Três Lagoas, o velório foi realizado na Capela Pax Vida, no bairro Santa Terezinha. De lá, o corpo seguiu para o Cemitério Municipal Santo Antônio, local do sepultamento ao lado dos seus pais.

O prefeito João Alfredo Danieze acompanhou todo o velório e o sepultamento de Guiomar Soares dos Santos. "Ribas teve uma perda imensurável não só na política, mas principalmente na área da educação. Tive a oportunidade de caminhar junto com a professora Guiomar e vencemos – pela escolha do povo – as eleições em 2020. Hoje, prestamos homenagem à professora e vice-prefeita Guiomar Soares dos Santos", lamentou o prefeito João Alfredo Danieze. O presidente da Câmara Municipal de Ribas do Rio Pardo, vereador Luiz do Sindicato, lamentou a morte de Guiomar e disse: "hoje choraremos sua partida".

Marcos Roberto Ramalho, conhecido em Ribas do Rio Pardo como "Neguinho de Ouro", não escondeu a emoção pela prima estimada. "Era uma grande mulher. Todos nós sentiremos sua a falta e agora o que nos conforta é saber que ela está em um lugar melhor que o nosso – está em paz", disse Ramalho. Ele informou, ainda, que na sexta-feira, 10, Guiomar Soares dos Santos se sentiu mal e foi levada ao hospital com sintomas de dengue. Ela foi liberada, mas na tarde de domingo (12) começou a passar mal e foi, mais uma vez levada ao hospital, onde sofreu duas paradas e não resistiu, vindo a óbito por volta das 19h.

Genro de Guiomar, Jackson Collis estava visivelmente entristecido e revelou que não perdeu apenas uma sogra, e sim uma amiga, companheira e que, de vez em quando, poderia levar até uns puxões de orelha. "Ela era minha segunda mãe. Estou muito triste e confesso que os próximos dias serão muito difíceis para toda a família", comentou Collis. Como educadora, Guiomar Soares dos Santos escreveu o livro intitulado "A importância da formação do professor", que foi lançado em 2006, o que fez elevar ainda mais admiração à Guiomar Soares dos Santos. Na política, eleita como vice-prefeita, ela estava exercendo seu primeiro mandato.

Trajetória de vida

Guiomar Soares dos Santos nasceu em Três Lagoas no dia 30 de setembro de 1965. Filha de Abadio Soares de Andrade e Jandira Silva de Andrade, ambos já falecidos. Ela tinha dois irmãos: José Jorge de Andrade e Ajadil Abadio Soares, que também já faleceu. Aos dois anos, ela perdeu o pai. Teve uma infância dura e cresceu junto de sua mãe, que era empregada doméstica.

A vice-prefeita e professora sempre dizia que foi a partir da viuvez da mãe que recebeu a orientação de sempre estudar e nunca mais parou. Iniciou os estudos em Três Lagoas, quando - cursando o magistério – foi convidada, em 1984, a vir para Ribas do Rio Pardo, começando a carreira como professora na Ramires Reflorestadora para lecionar na Fazenda Pantano, situada na zona rural. Em 1985, voltou para a cidade e lecionou na Escola Balão Mágico. Em 1987, foi convidada pelo empresário Isael Passara, já falecido, a lecionar na Reflorestadora Transparaná. Lá, ela trabalhou por 8 anos com apenas a formação de Magistério, mas sempre sentindo que faltava algo para me tornar uma profissional completa.

Aos 26 anos, Guiomar Soares dos Santos casou-se com Mauro Antônio dos Santos, carvoeiro vindo de Uberlândia (MG). Ele já era viúvo e trouxe o filho Paulo Roberto Alvarenga dos Santos. Desta união, nasceu a filha Jaqueline Aparecida dos Santos. Ela decidiu voltar para a cidade e parou de lecionar por uma década após montar um comercio em um trailer servindo comida dia e noite. Nunca ficou satisfeita com essa decisão. Em 1997, ouviu no rádio que estavam precisando de voluntários para trabalhar com pessoas de necessidades especiais e, via Rotary Club, participou da criação da Associação Pestalozzi de Ribas do Rio Pardo.

De volta à educação, trabalhou como voluntária por um ano e, posteriormente, começou a ser assalariada atuando como coordenadora pedagógica – função na qual realizou capacitações para atuar na área, embora ainda não fosse pedagoga. Em 2002 iniciou os estudos em Pedagogia na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Lecionou na Escola São Sebastião, no ensino fundamental. Com a conclusão do curso, foi autorizada pelo reitor escrever e publicar o livro "A Importância da Formação do Professor: um Profissional na Educação".

Já na Escola Clínica Arco Íris, mantedora Associação Pestalozzi, no qual fez parte por 22 anos, Guiomar Soares dos Santos exerceu a função de diretora administrativa pedagógica, tendo acesso à situação vulnerabilidade da população de Ribas do Rio Pardo. Ela dizia que a população a procurava para buscar informações por não conhecer seus direitos e que seu trabalho sempre seria árduo diante das pessoas mais necessitadas na sociedade. Depois entrou na política e, em 2020, foi eleita vice-prefeita. Logo após a vitória das eleições, ela bradou (à época): "foi uma vitória de uma negra, mãe de família e professora".