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De Ribas: Gilda percorreu 3 mil km para reencontrar família e deixar de ser órfã

Gilda saiu de Ribas do Rio Pardo, no interior de Mato Grosso do Sul, em busca das raízes deixadas para trás ainda na infância, no pequeno distrito de Henrique Dias, em Pernambuco

Por Naiane Mesquita em 20/10/2022 às 10:24:52

Gilda (de calça rosa) e o filho Ronie (à esquerda) ao lado da família em Pernambuco (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram mais de 3 mil quilômetros percorridos, saindo de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, com destino ao pequeno distrito de Henrique Dias, em Sertânia, Pernambuco. Um trajeto que ela fez agora de avião ao lado do filho caçula, Ronie Cruz, mas que há 51 anos foi feito pela estrada, com os pais, quando ela era apenas uma criança.

"Quando eu sai do Nordeste eu tinha 7 aninhos, mas agora que o Ronie [filho] me trouxe para encontrar com minha família, família de minha mãe e do meu pai, é como se eu tivesse saído com meus 20 anos", diz.


"A partir do momento que eu pus os pés naquele avião, eu não era mais órfã", afirma Gilda Dias, 58 anos.

A memória guardada a sete chaves por muito tempo, emergiu conforme dona Gilda percorria as ruas do pacato distrito de Pernambuco. "Foi passando um filme na minha cabeça. Sabe quando você está no cinema? Foi passando um filme, com as lembranças, a saudade, as lembranças dos meus pais e de todo o sofrimento que nós passamos ao longo dos anos".

A família reunida (foto: Arquivo Pessoal)


51 anos

Os pais de Gilda saíram de Pernambuco na década de 70 em busca de melhores oportunidades de emprego. Na época, Henrique Dias era uma vila de ferroviários, profissão do pai de Gilda.

Primeiro, eles fizeram morada em Minas Gerais e só depois fixaram raízes em Ribas do Rio Pardo. Lá, Gilda seguiu a vida, casando, tendo filhos e trabalhando como faxineira. Nesse meio tempo, o restante da família dela permaneceu no Nordeste, perdendo o contato conforme os anos iam passando, em uma época que o uso de celulares e da internet era inimaginável.

Só após a morte dos pais e com a cobrança dos filhos pelas origens, Gilda decidiu se abrir sobre o passado. Foi quando a nova geração entrou na história para ajudar. De nome em nome nas redes sociais, Ronie refez os passos da mãe e reencontrou a família pelo sobrenome.

À distância, tão grande, diminuiu primeiro em 2021, com uma videochamada incluindo tias, primos e tudo mais. Porém, ainda faltava o abraço apertado, dado finalmente na semana passada, quando ela embarcou em um avião pela primeira vez, para deixar de ser "órfã".

"Depois que meu pai e minha mãe faleceram, eu sentia um vazio dentro de mim, uma sensação de que o mundo tinha acabado. Mas, quando eu descobri a família do meu pai e da minha mãe, aquele vazio dentro de mim como que fosse uma bexiga cheia, esvaziou. Hoje eu me sinto segura, tenho a certeza que tenho um pedaço do lado da minha mãe e um pedaço do lado do meu pai".

Gilda na casa onde nasceu e viveu parte da infância (Foto: Ronie Cruz)

Mesmo tão novinha na época que deixou o Nordeste, Gilda conseguiu reconhecer o local em que nasceu e a família que deixou para trás.

"Eu lembrei das pessoas que eram meus pais, meus tios, meus avós e do lugar. Estou muito feliz, pra mim foi uma surpresa muito grande, maravilhosa, eu espero que Deus me dê força e saúde para eu voltar cada vez mais no meu Nordeste. Se eu te falar demais, vai me dar emoção e eu posso até chorar", confessa.

Emoção que é fruto de uma espera que teve fim. "Eu estou muito emocionada, 51 anos não é 51 dias? Quem tem família muito longe, tem que procurar".

Fonte: Primeira Página

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